BOLÍVIA - ENCONTRO COM UMA CULTURA INCRÍVEL

BOLÍVIA – VIVÊNCIA RIQUÍSSIMA EM UMA CULTURA RESPEITÁVEL

JANEIRO/2012

 

     Em janeiro de 2012, combinei com as meninas de visitarmos o Peru e a Bolívia por nossa conta e risco, o que é um sonho pra mim desde a época do curso de espanhol. Juntamos sete mulheres: eu, Ana Maria, a amiga dela Andréa, Ilminha, Edna e as amigas dela Josi e Rita.


BANDEIRA DA BOLÍVIA


     Compramos as passagens aéreas ida e volta para La Paz na Bolívia, mas não conseguimos embarcar no dia previsto (01 de janeiro) de Guarulhos, devido à inauguração totalmente desorganizada de um templo religioso na beira da Dutra que travou o trânsito do local, o evento tornou a passagem impossível. Resultado: voltamos ao aeroporto no dia seguinte, esperamos a vontade dos atendentes o dia todo e só conseguimos embarcar no outro dia (04 de janeiro), passamos a noite no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, pois o vôo da Aerosur saiu às 4h30 da manhã com escala no Aeropuerto Internacional Viru Viru em Santa Cruz de la Sierra. Usei meu RG para essa viagem, mas devia ter levado o passaporte pra “ganhar” uns carimbos... Chegamos ao Aeropuerto Internacional El Alto em La Paz (a 4000 m de altitude) em segurança e nos hospedamos no Hotel Sajama (Av. Illampu, 775, La Paz), bem no centro.







     Me senti bem na cidade, mas minha cabeça doeu pra valer. La Paz é um vale rodeado de montanhas com milhares de casinhas sem acabamento externo – estratégia para diminuir o valor do imposto – construídas em vielas e curvas pelos morros. A cidade é a capital federal mais alta do mundo com 3650 metros de altitude.



PIZZA GIGANTE 

     Conhecemos a Calle de las Brujas, ou Mercado das Brujas (entre as ruas Melchior Jimenez e Linares), um local bastante peculiar, que comercializa vários produtos ligados à religião dos povos andinos como os Aymará e os Quéchua. Além desses objetos religiosos, lá também são vendidos tapetes, roupas, itens de decoração, artesanatos, lembrancinhas de todo tipo e joias. Mas o que mais impressiona são os fetos e bebês empalhados de llama, procurados como amuleto e oferenda à Pachamama. Compramos mesmo blusas, cachecóis, luvas, gorros, mantas e ponchos feitos de lã por um bom preço, pagos em pesos bolivianos.



     Fizemos o City Tour tradicional, pelas ruas de paralelepípedo com um trânsito confuso e esquisito (não sei como os veículos não se batem, é uma coordenação incrível em meio ao caos); passando pela Praça Murillo, alguns mirantes e uma feira típica, onde conhecemos as batatas desidratadas e as folhas de coca, muito utilizadas na região andina. Eu tomei chá de coca todos os dias e várias vezes, pois era bom pra minha dor de cabeça, que na verdade era “mal de altitude”. Observamos várias senhoras de origem indígena, as cholas, parte do folclore andino, com seus cabelos trançados e suas sete saias coloridas uma por cima da outra; elas são sérias, não gostam nem admitem serem fotografadas... Tentei fotografar uma delas discretamente, ela percebeu e me xingou... Acho... Pois falou em quéchua...





FOLHAS DE COCA PRONTAS PARA MASTIGAÇÃO OU CHÁ











     Visitamos o Circuito Ecoturístico Cultural Vale da Lua, com formações rochosas muito bonitas, um verdadeiro emaranhado de formações rochosas pontiagudas bem na área urbana de La Paz. As rochas são de arenito que sofreu a ação dos ventos e das chuvas ao longo dos tempos. Entre as formações, há trilhas e mirantes bem interessantes.









DA ESQ. RITA, EDNA, ILMA, EU, ANDREA, ANA MARIA E JOSI




     A Bolívia merece mais tempo de visita, por isso, decidimos (eu, a Edna e a Rita) ficarmos mais uns dias no país depois do retorno do Peru, mudando a data do nosso vôo de volta (foi a primeira vez que fiz isso) e pagando uma pequena multa  de 50 dólares por isso. Queria conhecer um pouco mais desse universo e como nós três não tínhamos compromisso na volta ao Brasil, pudemos ficar...

         No dia seguinte, seguimos para Puno em táxi (um erro, pois o táxi só nos levou até a fronteira com o Peru, mas combinou com a gente até Puno, resultado: tivemos que pagar mais alguns dólares para que outro carro nos levasse da fronteira até Puno), enfim, fronteiras são horrorosas... Dessa experiência só valeu o percurso até Copacabana, pois passamos pelo Lago Titicaca e visitamos a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana.  Copacabana está a 3841 metros acima do nível do mar e diz a lenda que a civilização Inca começou lá, às margens do lago Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo e uma atração incrível. O lago é alimentado pelas águas das chuvas e pelo degelo das geleiras do altiplano ao seu redor. De acordo com a lenda, foi nas águas do Lago Titicaca que nasceu a civilização inca, quando o deus Sol mandou seus filhos procurarem um local seguro para seu povo. Manco Capac e Mama Ocllo chegaram a uma ilha, a Ilha do Sol, dando início à nova civilização.

    






 






RETORNANDO DO PERU...





     Da rodoviária de Puno, o funcionário da agência Machu Picchu Brasil nos esperava com as passagens para La Paz. Partimos bem cedo para a Bolívia, e tivemos outra decepção: o rapaz comprou passagens somente até Copacabana, mas não nos avisou, disse que iríamos direto para La Paz... Na fronteira tivemos que descer e pagar mais cinco dólares para pegarmos outro ônibus até La Paz. Fronteiras são mesmo feias e algumas pessoas se aproveitam do turista para tirar vantagem, a maioria dos passageiros do ônibus não entendia o espanhol e ficou confusa, eu entendi o jogo... Nos estressamos muito, preocupadas com nossas malas, no meio da rua; eu fiquei muitas horas sem comer, pois viemos direto de Águas Calientes, pegamos trem até Cusco, depois um ônibus muito quente até Puno que não me deixou dormir... Depois a espera na rodoviária de Puno e a viagem até a fronteira... Bem, fiquei estressada e passei mal, quase desmaiei... Essa minha pressão que cai e me deixa em cada situação... Rsrsrs... Mas conseguimos! Após pegarmos o outro ônibus, chegamos em La Paz sãs e salvas.             

     Retornando à La Paz, nos hospedamos no Sajama Hotel novamente. O pessoal do hotel era muito atencioso e gentil, aliás, a maioria das pessoas na Bolívia foi muito cordial comigo, exceto quando tentei tirar fotos de uma das senhoras cholas... As meninas voltaram pra casa no dia seguinte, mas ficamos mais um tempo (eu, Edna e Ritinha) para conhecermos melhor a Bolívia e seu povo tão acolhedor.

     Combinamos com a agência Japi Tour alguns passeios. Pegamos o ônibus na rodoviária de La Paz até Oruro. Durante a viagem, pude treinar meu espanhol pois me sentei ao lado de uma senhora com trajes típicos, que conversou comigo, falou um pouco de seus costumes, se esforçou para compreender meu espanhol, perguntou sobre meu roteiro... Uma graça! Me senti honrada em dividir a viagem com uma pessoa tão gentil, que demonstrava respeito por sua cultura e seu país, é claro que eu elogiei seu povo, com toda sinceridade, pois me senti muito acolhida na Bolívia.


 


   De Oruro onde seguimos em trem Wara Wara der Sur para Uyuni. A viagem foi outra emoção, o caminho todo era no meio de uma espécie de deserto, sem civilização visível da janela do trem; como levamos apenas uma mochila (deixamos as malas grandes no Sajama, em La Paz), nossa locomoção ficou mais fácil. Desembarcamos em Uyuni tarde da noite nos hospedamos no Hotel los Girassoles (Calle Santa Cruz, 155, Uyuni).











     No dia seguinte, visitamos o Cemitério de Trens – com sucatas enferrujadas de vagões abandonados por empresas que exploraram a região, o Museu de Sal, o Hotel de Sal Playa Blanca – construído no meio do deserto com blocos de sal de tijolos a móveis e a Praça das Bandeiras em frente. Observamos os Ojos del Salar, lindos, com água brotando do meio daquele sal todo! Almoçamos uma refeição vegetariana fria no meio daquela imensidão branca... O salar é incrível, lindíssimo! Queria muito conhecê-lo! Foi outro sonho realizado. O passeio de dia inteiro nos deu uma ideia de como é o salar, há pessoas que passam várias noites por lá e se hospedam nos hotéis feitos de sal da região. O Salar de Uyuni, localizado a 600 km de La Paz,  é o maior mar de sal do mundo, está a cerca de 3500 metros de altitude e é fonte de lítio, magnésio, potássio e sódio. A cor branca do sal é tão intensa que precisamos usar óculos escuros pois é difícil ficar com os olhos abertos sem eles...

CEMITÉRIO DE TRENS








MUSEU DE SAL





ALMOÇO NO MEIO DO SALAR




HOTEL DE SAL PLAYA BLANCA






PRAÇA DAS BANDEIRAS

POESIA DO SALAR...











MINHAS MODELOS

OJOS DEL SALAR







   Caminhamos pelo centro de Uyuni e retornamos à La Paz em um ônibus que não tinha banheiro nem fazia paradas, pois não haviam postos de serviço pelo caminho, que era no meio do deserto. Passamos umas 15 horas dentro do ônibus, eu nem bebi água pra não precisar usar o banheiro e também convenci o meu psicológico de que “não precisava de banheiro”... Rsrsrs... Emoções do caminho!!! Faria tudo novamente? Claro!!! E chegamos salvas em La Paz, tremenda aventura!!! Hoje eu dou risada... Esses “perrengues” são divertidos depois que passam, dá até saudade...




   De volta mais uma vez a La Paz, visitamos o Museu da Coca, que conta a história dessa planta (Erythroxylum coca) considerada sagrada, dotada de poderes mágicos e um intermediário no contato com forças sobrenaturais através de rituais antigos. A folha de coca também é mastigada pelas pessoas, culturalmente (ajudava os mineradores a aguentarem jornadas de trabalho longas e exaustivas..., devido ao poder estimulante, de supressão do frio e do cansaço) e tem um alto valor nutritivo, dando disposição e diminuindo a fome. Há também o uso medicinal, em que a coca é transformada em gel ou pomada para dores no corpo, pois tem efeito anestésico e analgésico. No estado natural a folha de coca é nutritiva e não faz mal, mas quando se extrai - através de um processo químico - o cloridrato de cocaína da folha de coca, esse sim causa dependência química e danos à saúde. A Bolívia considera a folha um patrimônio cultural e recurso natural renovável da biodiversidade. Aproveito para transcrever aqui a Lenda da Coca: “Deus disse ao povo andino: Guarda as folhas com muito amor e quando você sentir a dor no seu coração, fome em seu corpo e escuridão em sua mente... leve-os a boca e, suavemente, seu espírito que faz parte do meu... Você encontrará amor pra sua dor, comida para o seu corpo e luz para a sua mente. Além disso, observe as folhas dançarem com o vento e você encontrará respostas para suas perguntas. Mas se o seu torturador, que vem do Norte o conquistador branco, o buscador de ouro, tocá-lo... Ele encontrará veneno para seu corpo e loucura para sua mente porque seu coração é tão insensível quanto suas roupas de aço e ferro. E quando o COCA, como você chama isso, tentar suavizar seus sentimentos só vai quebra-lo como os cristais nascidos nas nuvens quebram as pedras e demolem montanhas...” (Adaptação gratuita de Jorge Hurtado G. do livro de Antonio Diaz Villamil em: https://translate.google.com/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.cocamuseum.com/&prev=search)



     Caminhamos pela praça da Igreja de São Francisco e fizemos compras na Calle de las Brujas. Já estava aclimatada e nem me lembrava das dores de cabeça... Que bom, pois sofri com “el soroti” até Puno. Continuei tomando chá de coca todos os dias, pois todos os restaurantes e pontos de apoio de passeios ofereciam a bebida típica. E o chá é gostoso...




     Conhecemos também as ruínas do Complexo Arqueológico de Tiahuanaco (Tiwanaku), que é um sítio arqueológico pré-colombiano muito importante – é um dos precursores do império Inca, a 3870 m de altitude e localizado a 72 km de La Paz. De acordo com historiadores, a cidade e seus habitantes não deixaram registros escritos, embora rica em conhecimentos. O local é considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e estava em processo de escavação durante minha visita. Parte muito interessante é o Templo Semi-Subterrâneo, espaço que fica a 2 metros abaixo do nível do solo, com 175 cabeças encravadas nas paredes e um sistema perfeito de drenagem de água. Parte do passeio com peças encontradas nas escavações e também interessantes são os Museus de Cerâmica e Lítico.











PIRÂMIDE AKAPANA



MONOLITO PONCE MARCADO COM UMA CRUZ ESPANHOLA PARA "EXORCISAR"


FEITO DE ANDESITO O MONOLITO TEM 3 METROS DE ALTURA



TEMPLO SEMI-SUBTERRÂNEO








TEMPLO KALASASAYA



AMPLIADOR DE SOM

PORTA DO SOL









PUMA PUNKU





CRUZ ANDINA






     No retorno para La Paz experimentamos o pão sem fermento de Laja, tradicional da cidade de mesmo nome, que abriga uma igreja construída com rochas retiradas das escavações de Tiwanaku.








     Em 17 de janeiro embarcamos em La Paz no Aeropuerto Internacional El Alto até o Aeropuerto Internacional Viru Viru, em Santa Cruz, e, aproveitamos a escala em Santa Cruz de la Sierra para visitarmos a praça central da cidade, subirmos o mirante da Igreja Santa Cruz e comermos um lanche por lá. As meninas são muito animadas!!! Temos sintonia de pensamentos em querer aproveitar ao máximo as viagens.




SANTA CRUZ DE LA SIERRA




     Essa viagem foi um sonho realizado, voltei pra casa cheia de felicidade e de conhecimentos incríveis, além de ter feito novas amizades! O povo andino é acolhedor, tem um respeito profundo por suas origens, algo que nós, brasileiros, devíamos copiar.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

- VÔO LA PAZ/SÃO PAULO/LA PAZ = 885 REAIS COM TAXAS

- HOSPEDAGEM HOTEL SAJAMA = 65 DÓLARES

- PASSAGENS RODOVIÁRIAS LA PAZ/PUNO/LA PAZ + TRANSFER EM TÁXI = 60 DÓLARES

- MULTAS POR MUDANÇAS NO EMBARQUE = 100 DÓLARES

- PASSEIO VALE DA LUA/LA PAZ = 15 DÓLARES

- PASSEIO PARA SALAR DE UYNUNI, COM TRANSFER + HOTEL + REFEIÇÃO = 180 DÓLARES

- PASSEIO COMPLETO EM TIWANAKU = 42 DÓLARES

- TARIFA PARA VÔO INTERNACIONAL SAÍDA DE LA PAZ = 25 DÓLARES

Roteiro detalhado do Peru no artigo:

https://www.blogger.com/blog/post/edit/66204183077415469/1339355596222934224

Roteiro resumido Bolívia e Peru no artigo:

https://www.blogger.com/blog/post/edit/66204183077415469/9053212917539888649









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