CHAPADA DIAMANTINA COM ECONOMIA


CHAPADA DIAMANTINA – AVENTURA NO CORAÇÃO DA BAHIA

JANEIRO/2009




     Nas férias de janeiro de 2009, combinei com duas amigas: Ana e Ilma, e uma colega-chefe do trabalho da Ana, um passeio independente, bem ecológico, conhecer SALVADOR e a CHAPADA DIAMANTINA/Bahia. Planejamos permanecer na Bahia entre 07 e 19 de janeiro, passando pela Chapada entre 11 e 16 de janeiro, bem no meio do roteiro.

     Sobre Salvador (que é um roteiro mais comum), escreverei outro artigo. Agora, vamos à Chapada... Outro sonho de aventura em minha vida!

  Deixamos nossas malas trancadas num cômodo do hostel de Salvador (“Laranjeiras Hostel”) e seguimos de ônibus até LENÇÓIS (414 km de Salvador) com a linha “Real Expresso” Salvador - Seabra. Pegamos o ônibus na rodoviária de Salvador às 16h30 do dia 11 e chegamos em Lençóis no mesmo dia por volta das 23h, lá nos hospedamos no “Hostel Chapada” (Rua Urbano Duarte, 121/133, Lençóis), bastante organizado, com ambiente familiar, onde o próprio dono argentino, nos recebeu e nos passou as informações sobre o passeio do dia seguinte, nos tranquilizando muito. O quarto com banheiro era só nosso, tinha armário com chaves para guardarmos as malas, a roupa de cama e banho estava incluída e o ventilador era silencioso e refrescante... Só que a porta do quarto permanecia sempre aberta, sem podermos trancá-la... Cada hostel tem suas regras. E, enfim, pude dormir a noite toda (em Salvador não consegui dormir) e já sonhar com a Chapada...


HOSTEL CHAPADA


O HOSTEL TEM TRATAMENTO ACOLHEDOR



     Nos dias seguintes, acordamos às 7h da manhã, um ótimo horário para tomar café da manhã reforçado (o hostel servia um pãozinho de banha delicioso no café...) e caminhar bastante pela região. Então, “desbravamos” a CHAPADA DIAMANTINA, com os guias Derba, Lee e Ney, muito legais. Sempre caminhando horas sob o sol quente, em trilhas maravilhosas. No primeiro dia, com o Derba e um grupo maior de turistas, pegamos uma trilha breve até o “Rio Mucugezinho”, caminhamos em seguida até o “Poço do Diabo”, uma série com duas cachoeiras e piscinas naturais boas para banho, o calor era intenso, também havia uma tirolesa do alto da cachoeira até a base. Dali, seguimos para o cartão postal da Chapada: o “Morro do Pai Inácio”, com seus imponentes 1120 metros de altura (foi dureza subir tudo aquilo debaixo de sol forte...), onde ouvimos as lendas sobre a região, avistamos o conjunto de montanhas “Três Irmãos”. Do alto do Pai Inácio pode-se ver a maravilha que é a Chapada, com montes cortados, realmente chapados...


MUCUGEZINHO

POÇO DO DIABO



MORRO DO PAI INÁCIO




     Segundo a lenda contada pelo guia Derba: “Inácio era um escravo muito bonito e forte, usado como reprodutor da senzala, daí o seu nome ‘Pai Inácio’, pois era o pai dos escravinhos daquela fazenda. Inácio conhecia bem as belezas da região, inclusive o morro, que hoje leva seu nome. Tudo corria normalmente, até que o dono de Inácio deixou que sua esposa fosse conhecer as belezas naturais do local em companhia de Inácio. Entre idas e vindas, os dois tiveram um “caso”, e um dia o senhor flagrou os dois. Inácio teve tempo de fugir e se esconder, mas a sinhazinha foi pro pelourinho (não se sabe o que aconteceu com ela depois). Inácio passou a viver no alto do morro. Mas um dia, o senhor ficou sabendo e foi até lá, com mais de cem homens para matá-lo. Encontraram rapidamente Inácio e o encurralaram na beira do morro. Ele então, disse que preferia entregar sua vida à natureza e se jogou do morro. Não encontraram o corpo de Inácio, seus filhos colocaram uma cruz no local da queda e passaram a chamar o morro de Morro do Pai Inácio... Assim nascia a lenda... Dizem que Inácio caiu em um platô logo abaixo de onde se jogou, esperou e depois fugiu.”






     Almoçamos e seguimos para a “Gruta Azul”, que fica no caminho para Irecê, essa gruta é um paredão inclinado (dolina) com lago azulado no fundo – que só ficou azul nas fotos. Depois, visitamos a “Gruta da Pratinha”, que é interligada à Gruta Azul, lá tinha uma tirolesa, pontos para mergulho de superfície e ponto de apoio com muitos bichos além de um lago enorme e transparente, onde cavalos tomavam água. Dali, seguimos para a “Gruta Lapa Doce”, em Iraquara, que tem 850 metros subterrâneos, com estalactites e estalagmites e outros espeleotemas com cores avermelhadas. Em um dos espeleotemas foi gravada parte da abertura da novela “Tieta”, aliás, cada paisagem nova me parecia já ter visto em alguma cena da TV. Um espetáculo! Nosso guia nos reuniu no meio da gruta e apagou o fogareiro que iluminava, deixando-nos no breu total. Muito estranho, pois de repente falta tudo e temos uma louca sensação de inexistência... Morcegos? Ouvi uns sons parecidos com os deles, mas não os encontrei. Gostei muito desta experiência! À noite, assistíamos TV e conversávamos com os outros hóspedes. Era muito divertido trocar experiências com viajantes simples e aventureiros como nós.


GRUTA AZUL






GRUTA DA PRATINHA


GRUTA LAPA DOCE









     Todos diziam “O passeio de hoje promete!” E prometia mesmo... Caminhamos muito (cerca de 6 km ida e volta) até o alto da “Cachoeira da Fumaça”, com 380 m, localizada em CAETÉ-AÇU, ou Vale do Capão, ‘coração da Chapada’. Um espetáculo, uma das atrações mais visitadas da Chapada. Para chegar lá, passamos pelo município de Palmeiras, que tem uma pequena sede do IBAMA, pegamos estrada de terra por um longo trecho. A trilha é moderada em grau de dificuldade, há uma subidona puxada sobre pedras no início, mas o sol não estava forte, o que nos ajudou. A guia Lee acompanhou somente nós quatro. No meio da subida, uma senhora vendia água de coco, sucos e pastéis de palma e de palmito de jaca (claro, experimentei e achei o de jaca ótimo). A subida é pela chamada Serra do Sincorá, com paradas para descanso e contemplação. Era a primeira trilha de verdade da Edna e ela se superou. Os próximos trechos da trilha são mais estáveis com algumas travessias no rio e alguns trechos de mata em recuperação, demarcados pelo IBAMA. A caminhada geral é em meio a vegetação baixa, típica de cerrado, com alguns espinhos de caatinga, sem sombra. Os banheiros são as moitas do caminho e o almoço é o lanche de trilha. Bem selvagem ou quase... De longe, já no alto, sentimos uma garoa “É o vento trazendo a água da cachoeira” – dizia Lee. Ao chegarmos no alto da montanha, a sensação de paz é absoluta. Para ver a Fumaça toda, só há uma maneira: deitando na pontinha de uma pedra destacada da montanha, que fica a 40 m do início da queda d´água.  A guia, muito cuidadosa, nos avisou que algumas pessoas sentavam na pedra, mas que isso não é mais recomendado porque podemos ter tontura ou desmaiar e aí... Já era... Então a solução é deitar na pedra de bruços. É muito louco! A queda d´água não chega a tocar no solo por causa da pequena vazão de água levada pelo vento, de tão alta. A cachoeira está bem no meio de um vale formado por arenito e lindo demais! A gente se sente mais leve que o ar, com a adrenalina correndo nas veias, observando aquela queda espetacular. Valeu a pena ter vivido, valeu toda a minha existência, com certeza! Saí da pedra tremendo... Caminhamos até um dos lados do vale, para contemplar a Fumaça de outro ângulo. Maravilhosa! Retornamos na trilha agora sob sol forte, que cansa muito mais os caminhantes...


DA ESQ. ILMA, EDNA, ANA MARIA E EU














VOCÊ SE DEITA NA PEDRA...

E VÊ ESSE ESPETÁCULO!!!





UHUUU! A FUMAÇA É NOSSA!!!






     Ao final da tarde, tomamos banho e relaxamos no “Riachinho”, uma cachoeira com pedras parecidas com pé-de-moleque (rochas redondinhas incrustadas numa rocha maior) evidenciando a sedimentação na região. Um lugar belíssimo! No caminho de volta para o hostel, observamos o “Morrão” no meio do poeirão da estrada. À noite o céu estrelado, que há muito tempo não via, enchia nossos olhos. Naquela noite dormi como um bebezinho recém nascido, de cansaço e felicidade, a sensação que tomou conta de mim quando deitei na pedra, levarei pra sempre comigo! E como dormi bem naquele lugar... Sentía meu corpo em total harmonia com a natureza ao redor, desde a água do chuveiro, rica em óxido de ferro, até o alimento de cada local.





RIACHINHO








     O guia Derba nos levou, somente as quatro, para mergulharmos com coletes e snorkel, no “Poço Azul”, em Nova Redenção. O poço é uma caverna, cujo paredão de entrada é ninhal de urubus com escadaria de acesso cheia de borrachudos esfomeados por nosso sangue (claro, eu os alimentei... rsrsrs...). Lá dentro se vê o lago azul escuro, onde se faz a flutuação para se ver as rochas e formações que estão há muitos metros de profundidade, uma delas estava a 17 m, mas parecia estar na superfície. Deu muito medo entrar naquela água no maior escuro, com rochas azuladas, mas entrei, senti e vi, faria de novo; valeu de novo a vida!


ANA, EU, O GUIA DERBA, ILMA E EDNA

POÇO AZUL










     Depois, atravessamos um rio com o carro, em uma pequena balsa muito primitiva, mas funcional. Visitamos o “Cemitério Bizantino”, muito diferente, onde se usam pedras locais para construção dos túmulos, em MUCUGÊ. A cidade de Mucugê surgiu durante a corrida pelos diamantes, seu centro ainda tem algumas construções preservadas. 





EU E AS BORBOLETAS... 

MUCUGÊ

CEMITÉRIO BIZANTINO

       Em Mucugê, visitamos também o “Projeto Sempre Viva”, o “Museu Vivo do Garimpo” que fazem parte do “Parque Municipal de Mucugê”. Observamos as exposições do museu e recebemos informações sobre a florzinha sempre viva que só nasce em Mucugê. 


MUSEU VIVO DO GARIMPO




PROJETO SEMPRE VIVA


       Também caminhamos cerca de 30 minutos pelo parque e nos banhamos na cachoeira “Tiburtino”, sobre um lajedo, que forma um redemoinho com o movimento da água. Na caminhada, as meninas levaram o maior tombaço na volta, bem no meio do rio, que tinha forte correnteza e uma corda de segurança, o guia gravou tudo mas elas não me deixam publicar... Também tomamos uma ducha na “Cachoeira Piabinha” formada no mesmo rio, só que mais à cima. A vazão da água estava mais amena e havia um enorme arco-íris bonito de se ver... Excelente!







CACHOEIRA TIBURTINO






CACHOEIRA PIABINHA



     Nossa aventura continua... Caminhamos muito até a “Cachoeira do Sossego”, em uma trilha que não tem nada de sossego. Nosso guia foi o Ney, que levou apenas nós quatro, assim pudemos caminhar no nosso ritmo. Essas trilhas foram feitas pelos antigos caminhos de garimpeiros, passam por subidas muito fortes com ou sem pedras, além de trechos de travessia do rio em meio às águas escuras, enfim, foi um trabalhão chegar na cachoeira, pois precisamos pular muitas pedras, mas ela é maravilhosa do alto dos seus 15 metros, em meio a um vale lindo, com camadas de rocha aflorando por todos os lados. Posso dizer que essa é a verdadeira trilha!!! Depois de tomarmos um banho nas lagoas formadas na beira da cachoeira, voltamos pela trilha durona. Quando o sol começou a esquentar bastante, chegamos ao “Ribeirão do Meio”. E pudemos nos refrescar.



TRILHA DO "SOSSEGO"








CACHOEIRA DO SOSSEGO




RIBEIRÃO DO MEIO




     A cidade de Lençóis fica a 45 km de Salvador e surgiu no Ciclo do Diamante. Preserva o casario colonial e outras construções do século XVIII. Os rios da região têm coloração avermelhada graças ao ácido húmico, resultado da decomposição de matéria orgânica e sua água é potável.


LENÇÓIS CORAÇÃO DA CHAPADA DIAMANTINA





     A Chapada Diamantina era leito oceânico há 600 milhões de anos. Encravada nesse sertão, está a Serra do Sincorá, monumento natural da Chapada, formado por camadas sedimentares de arenito, conglomerados e calcários que se elevaram acima do nível do mar por um fenômeno chamado soerguimento, originando vales profundos, escarpas e amplas chapadas em cadeias de serras.
     O Parque Nacional da Chapada Diamantina foi criado em 1985 e limita-se com os municípios de Lençóis, Andaraí, Mucugê, Palmeiras, Itaetê e Ibicoara. Esse espaço ainda é ameaçado por garimpo artesanal, caça clandestina e incêndios (um grande incêndio no final de 2008 espantou muitos turistas, declinando o número de visitas). A ocupação da região começou no século XVIII, quando garimpeiros vindos de jazidas já exauridas de Minas Gerais passaram a explorar a região. Creio que eles nem ligavam para as belezas naturais do local.
     A vegetação local é variada, constituída por campos rupestres, campos gerais, cerrado, caatinga, matas e capões. Muito rica em bromélias, orquídeas e sempre vivas. Quanto aos animais, há felinos, como a onça pintada e a suçuarana, roedores diversos, jacarés, serpentes, veados, preás e o raro beija flor de gravata.
     As cavernas da região formam uma das mais completas redes subterrâneas do Brasil. Mais um espetáculo!
  Caminhamos pelo “Serrano”, com aspecto “lunar”, descidas leves em conglomerados de rochas (os pés-de-moleque) por onde passa o rio, muitas vezes por baixo do lajedo, desaparecendo em um ponto e reaparecendo mais a frente, em crateras redondas. Visitamos o “Salão de Areias”, imenso local com rochas desmoronadas, de conglomerados, após a decomposição das rochas em areia, que é extraída e usada em obras de arte e outros artesanatos; elas são coloridas e algumas brilhantes. 
     O “Poço Halley”, é imenso, com águas avermelhadas com uma pequena queda d’água muito boa para contemplação e um banho. Seguindo as trilhas e escalando algumas rochas, chegamos à “Cachoeira Primavera” bem escondida com uns 5 metros de altura e queda muito forte. Subimos bastante entre as rochas para avistarmos o Serrano e parte da cidade de Lençóis. Uma tranquilidade absoluta. Finalizamos esse roteiro na “Cachoeira Paraíso”, uma pequena queda d’água com um fluxo médio de água que formou um poço raso bom para massagear os pés com as pedrinhas arredondadas do fundo... Ao mergulhar ali, agradeci a Deus por tudo, por ter vivido para estar ali.



SALÃO DE AREIAS









SERRANO











     Retornamos dia 16/01 para Salvador. Pegamos o ônibus às 23h30 e chegamos em Salvador no dia seguinte cerca de 5h30 da manhã. A chapada deixará saudades. Voltamos mais leves, mais tranquilas e encantadas. Também fizemos uma nova amiga, a Edna, que veio pra somar ao grupo; viajar é ótimo para fazer amizades... 
     Conhecer a Chapada valeu por toda a vida!!! Emocionante, mágico!!! Como não se maravilhar com tantas belezas?
     Que a humanidade conserve a Chapada Diamantina para que as futuras gerações também possam conhecer esse paraíso natural, um dos lugares mais lindos que conheci!!!

ORÇAMENTO:

     Este pacote do Hostel Chapada foi bem completo, pois pudemos conhecer um pouquinho de cada beleza da chapada. E custou 630 reais incluindo: 5 diárias + café da manhã + 2 lanches de trilha + todos os passeios com guia + transporte + ingressos + passagem de ônibus Salvador/Lençóis/Salvador. As passagens aéreas GOL custaram 498 reais com taxas, aproveitamos para passar alguns dias em Salvador também.

- PASSEIO REALIZADO EM JANEIRO DE 2009
- Roteiro resumido com Salvador no artigo:


VISITE A CHAPADA DIAMANTINA PATRIMÔNIO NATURAL DA HUMANIDADE! MARAVILHA BRASILEIRA!


Comentários

  1. BELA VIAGEM HEIM!!!! QUE FOTOS LINDAS!!! E VOCÊS VISIVELMENTE MARAVILHADAS... ADOREI VER ESTAS PAISAGENS... VOLTAREI NESTES LOCAIS PRA CURTIR MELHOR LENDO CADA DETALHE DESCRITO, MUITO BEM, POR SINAL. OBRIGADA POR ME PERMITIR ESTA VIAGEM...

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    1. Fico feliz em te ajudar a voltar a esse lugar incrível!!!

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  2. Lindas fotos, paisagem maravilhosa.

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  3. Agradecimentos especiais aos nossos guias e ao Hostel Chapada!

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  4. LUGAR INCRIVEL ANA PARABENS PELO BLOG E PELA CONQUISTA, ABRAÇO EZEQUIAS D´AVILA!

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    1. Obrigada por apreciar minha descrição, Ezequias! Um abraço.

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  5. HOSTEL É UMA OPÇÃO MUITO ECONÔMICA MESMO.

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  6. TEM HOSTEL EM TODO O BRASIL.

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